O musical, adaptado a partir do filme de Hilton Lacerda, se passa em Recife e fala de uma história de amor improvável em plena ditadura militar

Por Sandoval Matheus

Foto: Annelize Tozetto.

Adaptação para o teatro do incensado filme de Hilton Lacerda, de 2013, o musical “Tatuagem” chega agora à Mostra Lucia Camargo – com sessões nesta quarta, 27, e quinta, 28, no Guairinha – depois de ter vencido o Prêmio APCA de Melhor Direção e de ter sido indicado a nada menos do que seis categorias do Prêmio Bibi Ferreira, levando os galardões de Melhor Ator Coadjuvante e Melhor Arranjo Musical.

“Foi um pouco surpreendente ganhar todos esses prêmios, eu classifico a gente como a zebra do ano”, brincou na manhã de hoje, durante entrevista coletiva no Hotel Mabu, o diretor Kleber Montanheiro. “A recepção da crítica foi muito bacana, impressionante. E o público fica muito encantado. A plateia se envolve, a apresentação vira meio que um show de rock.”

Para o ator André Torquato, “Tatuagem” conseguiu um feito improvável. “A peça uniu teatro comercial, com música e entretenimento, com uma mensagem política clara.” A colega Bibi Wine completa: “É uma peça sobre coletividade, sobre a utopia de viver essa liberdade coletiva”, define. “Muita gente assiste e depois fala pra mim: ‘nossa, eu não sabia, mas acho que gosto de musicais’.”

O espetáculo se passa na cidade de Recife, em 1978. O enredo fala da difícil história de amor entre o líder de uma trupe teatral, Clécio, e um jovem militar do interior, Fininha, que acaba dividido entre o romance tórrido e a repressão exercida pela ditadura militar.

“O Fininha fica completamente deslocado quando chega naquele ambiente criativo, de gente que ele nunca viu, vestida de uma maneira como ele nunca viu. É algo do tipo: ‘o que está acontecendo aqui?’”, explica o ator Mateus Vicente. “O Fininha se deslumbra, e eu sinto o público também nesse lugar de deslumbramento.”

A dramaturgia teatral de “Tatuagem” é a mais fiel possível, seguindo à risca o roteiro e os diálogos do filme. “O roteiro para o teatro é praticamente o roteiro do filme. E isso foi uma escolha. É o corte final do filme ali, mas inserindo as músicas, transformando num musical”, descreve o diretor.

Ao todo, são 24 canções, todas do repertório da banda As Baías, com a qual Kleber Montanheiro mantém um relacionamento próximo. “Eu sempre tive o filme do Hilton Lacerda como um ícone”, conta. “E no meio da pandemia, comecei a rever filmes brasileiros que adoro, uns mais antigos, outros mais modernos. A certa altura, percebi que as músicas d’As Baías casavam perfeitamente com o filme, então voltei pro início, revi e fui pensando nos pontos pra colocar cada canção.”

“Apresentei a ideia pro Hilton, e ele embarcou. Ele tem muito apego ao filme, mas é um apego afetuoso. Depois, viu a peça duas vezes, então acho que gostou”, brinca. “E chorou nas duas vezes, porque ele é desses que chora.”

Nos palcos, “Tatuagem” adquiriu característica do teatro de revista, ramo das artes cênicas de gosto marcadamente popular, e que Kleber pesquisa há mais de 30 anos. “Isso me fez entender um pouco mais quem somos nós”, explica, ressaltando a dramaticidade, o deboche e a relação direta com a plateia que o gênero estabelece. “Foi no teatro de revista que se formaram muitos dos nossos artistas e também o tom de brasilidade que a gente encontra hoje na nossa cultura.”

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