“O Dalton Trevisan diz que em Curitiba toda família tem “louquinho no porão”. Pois é isso que nós somos”, disse a dramaturga Leonarda Glück, uma das fundadoras da Selvática Ações Artísticas durante a entrevista coletiva que aconteceu nesta segunda-feira (29) na Sala Jô Soares, no Hotel Mabu Business.
No sofá da suíte de entrevistas, o grupo de nove artistas assumiu com orgulho o rótulo de mais transgressor da cidade fama criada nos últimos 11 anos de atuação na cena teatral local.
E que deve ser confirmada com a estreia de “Adoráveis Transgressões”, o mais novo cabaré da trupe que chega aos palcos nos dias 31 de março e 1º de abril, às 20h30, no Teatro Zé Maria. A peça foi uma das primeiras a ter os ingressos esgotados nesta edição do festival.
A atriz Stéfani Belo afirmou que uma das metas do espetáculo é a fuga de um espaço invisível. Ela enfatizou a retomada dos holofotes para um debate sobre dar visibilidade aos corpos e às vozes de pessoas consideradas “anormais” por grupos conservadores.
Para um dos diretores, Gabriel Machado contou que o maior desafio da Selvática é a insistência na coletividade. “Olhamos para as diversas formas de existência concentradas nas 23 pessoas envolvidas na peça e seguimos fazendo arte juntos pelo Brasil”, comentou. Ricardo Nolasco, também responsável pela direção da obra, explica que a peça destaca o formato de cabaré desenvolvido pelo grupo que marcou o nome da Selvática no país.
No início de janeiro, os artistas começaram a se dedicar à textualidade de Leonarda Glück e do franco-argentino Copl, inspirados pela obra do dramaturgo russo Anton Tchekhov, para darem vida ao espetáculo “Adoráveis Transgressões”. “Foi um processo de experimentação profundo dos textos”, afirmou o ator Leo Bardo.
A atriz mineira Marina Viana explicou que enxerga uma similaridade no cenário teatral de Curitiba e de Belo Horizonte. Para ela, sua geração, que inclui a maioria dos integrantes da Selvática, contagiou outros grupos com suas formas de resistência em cena. “Eu acho que nossas ações foram reverberando a uma série de filhinhos”, ressaltou Marina.
“O mundo tá cagado!”, afirmou Leonarda. Para a dramaturga, o papel da trupe é incomodar, levantar questões sobre a nossa forma “normal” de viver, sobre política e apontar falhas sociais. “Adoráveis Transgressões” é um cabaré inspirado no melodrama das telenovelas, que brinca com a popularidade do formato. “Transgredir nesta cidade é uma necessidade vital. Ou você vai ficar no porão”, disse.

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